O consumo de proteína faz perder peso? Beneficia a regeneração muscular? É necessário ingerir suplementos como batidos ou barras energéticas? É possível consumir proteína a mais? A BBC News responde a tudo aquilo que sempre quis saber sobre o consumo de proteína.

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No início do século XX, Vilhjalmur Stefansson, explorador do Ártico, passou cinco anos a comer apenas carne. Ou seja, a sua dieta era composta por cerca de 80% de gordura e 20% de proteína. Vinte anos depois, em 1928, ele repetiu o mesmo tipo de alimentação como parte de uma experiência de um ano, no Hospital Bellevue, em Nova Iorque.

Em ambos os cenários, o explorador adoeceu. Foi vítima de uma ‘intoxicação por proteínas’, também conhecida como ‘rabbit starvation’ (‘inanição do coelho’), que ocorre quando ingerimos carnes magras, como a do coelho, sem qualquer complemento de gordura.

Apesar dos índices de obesidade terem duplicado nas últimas duas décadas, estamos cada vez mais a ganhar uma maior consciência alimentar, e com ela chegou a 'febre da proteína', que está no centro dessa onda saudável.

Os supermercados não deixam mentir. As prateleiras estão repletas de batidos, barrinhas e versões de produtos básicos, como cereais e sopas, enriquecidos com o nutriente.

Estima-se que o mercado global de suplementos de proteína esteja avaliado em cerca de 12,4 bilhões de dólares. Mas alguns especialistas alertam que alimentos ricos em proteína são de facto um desperdício de dinheiro.

Proteína e músculos

A proteína é essencial para o corpo crescer e se regenerar. Alimentos com alto teor proteico – como laticínios, carnes, ovos, peixes e feijões – são quebrados em aminoácidos no estômago e absorvidos pelo intestino delgado. O fígado escolhe então que aminoácidos o organismo precisa, e o restante é descartado pela urina.

Para adultos que não são muito ativos, o recomendado é ingerir diariamente cerca de 0,75 gramas de proteína por quilo de peso corporal. Em média, 55 gramas para homens e 45 gramas para mulheres – ou duas porções de carne, peixe, tofu, nozes ou leguminosas.

A maioria dos especialistas concorda porém que é melhor consumir proteínas a partir de alimentos do que de suplementos.

Segundo Kevin Tipton, professor de desporto da Universidade de Stirling, na Escócia, a maioria das pessoas obtém mais do que a média diária recomendada de proteínas a partir dos alimentos.

"Não há necessidade de tomar suplementos. Eles são uma forma conveniente de obter proteína, mas não há nada nos suplementos que você não consiga nos alimentos. As barras de proteína são apenas barrinhas com um pouco de proteína extra", esclarece.

Perda de peso

A proteína também tem sido associada à perda de peso. Dietas de baixa ingestão de carboidratos (low-carb) e ricas em proteínas, como a Paleo e a Atkins (a dieta proteíca original), prometem prolongar a sensação de saciedade.

Em geral, os indivíduos não conseguem emagrecer porque sentem fome, e estudos mostram que um pequeno-almoço com alto teor proteico pode ajudar a diminuir a vontade de comer ao longo do dia.

Segundo Alex Johnstone, da Universidade de Aberdeen, na Escócia, existem provas suficientes de que a proteína sacia. E se está a tentar perder peso, é mais importante tomar um pequeno-almoço rico em proteínas – com ovos mexidos ou vitaminas batidas com leite, por exemplo –, do que ingerir suplementos.

A pesquisadora não defende, no entanto, dietas do "tipo Atkins", e descobriu que cortar carboidratos tem efeitos prejudiciais para a saúde intestinal.

Ao invés, Johnstone recomenda que pessoas com excesso de peso adotem uma dieta rica em proteínas e moderada em hidratos de carbono, que consista em 30% de proteína, 40% de hidratos e 30% de gordura. Em média, as dietas costumam contemplar 15% de proteína, 55% de carboidratos e 35% de gordura.

Já o risco de consumir proteína em excesso é pequeno. A maior ameaça talvez seja cair no conto dos produtos super faturados que oferecem mais proteína do que realmente precisamos.

"Alguns produtos rotulados como ricos em proteína não são, e costumam ser muito caros. De qualquer forma, consumir mais proteína do que o necessário é um desperdício em termos de dinheiro", resume Johnstone.

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