mais de uma década de pagamentos automáticos por débito directo ocultaram uma realidade mórbida: uma idosa espanhola jazia morta em casa, em Madrid, sem que ninguém tivesse dado pela sua falta: o corpo só foi encontrado na semana passada

Click here to enlarge

o prédio onde Isabel morava e onde foi encontrada - GOOGLE MAPS



Isabel Rivera Molina, a mulher que na semana passada foi encontrada mumificada em sua casa, não tinha amigos nem familiares próximos, o que por si só poderia explicar porque é que durante quase 15 anos ninguém tivesse dado pela sua falta. Mas foi o facto de ter continuado a pagar todas as suas contas que fez com que o seu corpo só tivesse sido encontrado pela polícia e os bombeiros na semana passada no seu apartamento em Madrid, a capital espanhola.

O seu “desaparecimento repentino” em 2004 tinha levantado algumas suspeitas entre os vizinhos, mas o facto de Isabel ter continuado a pagar as contas da luz e gás, as despesas de manutenção do prédio e outros gastos (que eram todos debitados de forma automática da conta onde também recebia a pensão) fez com a desconfiança não passasse disso mesmo. Além disso, Isabel era proprietária do imóvel, pelo que não havia qualquer senhoria para bater à porta daquele apartamento onde vivia desde 1965. O marido, um arquitecto, tinha morrido há vários anos, e o casal nunca teve filhos.

As primeiras pericias da polícia revelaram que a mulher pode ter morrido há entre 14 e 16 anos. O corpo não se chegou a decompor, e já se encontrava mumificado quando foi encontrado. Segundo revelou terça-feira o El País, o cadáver foi encontrado na banheira, onde Isabel terá morrido de causas naturais.

O jornal também conta que, ao longo dos anos, foram feitas várias tentativas para contactar Isabel. Um dos gerentes do seu banco, por exemplo, estranhou que a depositante continuasse a pagar contas mensais, mas que não tivesse quaisquer despesas diárias a sair-lhe da conta, como alimentação, transportes ou roupa. Ainda tentou contactar a mulher e chegou até a ir ao seu apartamento, mas como ninguém lhe abriu a porta, desistiu e nunca mais voltou.

Em 2014, foi feita outra tentativa de entrar em casa de Isabel. Segundo conta o diário espanhol, na altura de retirar as luzes de Natal dos vários andares do prédio, um dos cabos ficou pendurado no terraço que dava acesso ao apartamento de Isabel. Com receio que este cabo pudesse ser usado para entrar na casa da mulher e para a assaltar, os vizinhos chamaram a polícia que prontamente se livrou do problema. Aproveitando a presença dos policiais, um dos vizinhos, Emilio Muñoz, de 78 anos, pediu aos agentes que entrassem no apartamento de Isabel porque não a tinha visto recentemente, mas a policia não o fez.

Um grupo de vizinhos, ao reparar que a caixa de correio de Isabel estava constantemente a abarrotar e tinha de ser esvaziada com frequência, ainda chegou a fazer queixa na esquadra local. Uma das últimas cartas recebidas tinha, aliás, data recente: era uma missiva do gabinete espanhol de recenseamento eleitoral a indicar onde deveria votar nas legislativas marcadas para o próximo dia 10 de novembro. Na altura da queixa dos vizinhos, os agentes contactaram uma cunhada de Isabel, que disse acreditar que a mulher vivia num lar. Ao fim de quinze anos, só a denúncia de uma sobrinha que estranhou não receber notícias da tia foi o suficiente para que se entrasse no apartamento de Isabel para se descobrir que estava morta há 15 anos.

















































in PÚBLICO.pt