meteorito que caiu na Austrália há 50 anos contém um grão feito de pó de estrelas que se formou há entre cinco mil e sete mil milhões de anos

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grãos encontrados no meteorito foram formados pela morte de uma estrela - CORTESIA NASA/W.SPARKS/R. SAHAI




São chamados “grãos pré-solares”. Como o nome denuncia, são grãos formados antes de o nosso Sol ter nascido e são feitos de pó de estrelas. Uma equipa de investigadores analisou um meteorito que caiu na Austrália há 50 anos e descobriu um pedaço sólido feito pó de estrelas que se formou há entre cinco e sete mil milhões de anos, revela um artigo publicado esta segunda-feira na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

“Estes são os materiais sólidos mais antigos alguma vez encontrados na Terra, e mostram-nos como as estrelas se formaram na nossa galáxia”, anuncia Philipp Heck, curador do Museu Field de História Natural, em Chicago (EUA), professor da Universidade de Chicago e principal autor do artigo. No trabalho, os autores descrevem um novo método para obter a idade de partículas de poeira interestelar com a análise de 40 grãos incorporados há pelo menos 4,6 mil milhões de anos num meteorito chamado Murchison. Os cientistas procuraram sinais da formação de isótopos específicos produzidos por interacções com raios cósmicos que podem ser usados para datar as partículas.

“Sessenta por cento das partículas revelaram idades inferiores a 300 milhões de anos antes da formação do Sistema Solar”, revela o artigo, que acrescenta que “partículas com idades superiores a mil milhões de anos antes da formação do sistema solar sugerem que esses grãos foram protegidos em aglomerados densos que ajudaram as partículas a sobreviver”. No comunicado do Museu Field, destaca-se uma partícula em especial. É, no fundo, algo semelhante a uma minúscula migalha – que atinge um máximo de 0,008 milímetros de comprimento – feita com pó de estrelas.


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Os grãos pré-solares são formados quando uma estrela morre e por isso podem contar-nos uma história sobre ela. “A nossa hipótese é que a maioria dos grãos, que têm entre 4,9 e 4,6 mil milhões de anos, se formou num momento especial de formação estelar. Houve um tempo antes da formação do nosso sistema solar em que se formaram mais estrelas do que o normal.” Esta hipótese contraria a visão que geralmente se defende sobre uma constante taxa de formação das estrelas.

Algumas das histórias dos grãos podem incluir agregados, incluindo compostos orgânicos. Os autores defendem que esta datação usada no estudo é um método viável para obter informações galácticas antes da formação do Sol.

“São amostras sólidas de estrelas, poeira estelar real”, diz Philipp Heck. Os pequenos pedaços sólidos de estrelas ficaram presos em meteoritos e ali se mantiveram inalterados durante milhares de milhões de anos, o que faz destas “migalhas” verdadeiras cápsulas do tempo antes da formação no nosso sistema solar. A poeira estelar é o material mais antigo a atingir a Terra e que nos pode dizer muitas coisas sobre as outras estrelas, a origem do carbono nos nossos corpos ou a origem do oxigénio que respiramos, sublinha o cientista. “É a melhor coisa a seguir a poder tirar uma amostra directamente de uma estrela.”



















































in PÚBLICO.pt