poucos exemplares havia dos répteis voadores que apareceram na Terra há 225 milhões de anos e que viveram com os seus primos dinossauros; com estes ovos agora encontrados, em bom estado de conservação, os cientistas conseguem saber mais sobre os pterossauros

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pormenor dos ovos encontrados - LUSA/MARCELO SAYAO


Mais de duas centenas de ovos de pterossauros – répteis alados que viveram na Terra na mesma altura que os dinossauros, há milhões de anos – foram encontrados na região de Xinjiang, no Noroeste da China, segundo um estudo publicado esta quinta-feira na revista científica Science. Antes desta descoberta, poucos exemplares desta espécie eram conhecidos.

“Lembro-me de estar a olhar para os espécimes e dizer que não era possível”, disse ao New York Times o paleontólogo Alexander Kellner, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos autores do estudo. “Antes tínhamos menos de dez ovos e agora encontrámos centenas deles num só sítio”. Segundo o investigador, os mais de 215 ovos, que incluem vestígios de 16 embriões, não terão sido postos pela mesma fêmea.

O grande número de ovos encontrados num só local dá a entender que os animais se juntavam em colónias para proteger as suas crias de ataques predadores — e que voltavam, ano após ano, ao mesmo sítio para pôr os ovos. Os investigadores pensam que as fêmeas nidificavam perto de um lago e que os exemplares agora encontrados foram arrastados para esse corpo de água – possivelmente por uma enxurrada causada por uma tempestade –, o que criou condições ideais para a fossilização. Os ovos ficaram preservados (e, mais tarde, fossilizados) durante milhões de anos.


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ilustração artística da espécie de pterossauro Hamipterus tianshanensis - REUTERS/HANDOUT


Os pterossauros habitaram o planeta entre o Triásico e o Cretáceo — voaram pelos céus durante cerca de 160 milhões de anos. Foram contemporâneos dos seus primos dinossauros (os pterossauros e dinossauros são dois grupos diferentes, mas têm um antepassado comum) e foram extintos na mesma altura, há 66 milhões de anos.

Os pterossauros foram os primeiros animais a voar, muito antes das aves, que só surgiram mais tarde. E são também os maiores animais que alguma vez voaram, que se saiba: as asas dos pterossauros podiam, por si só, chegar aos 13 metros de envergadura.


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ilustração artística dos ovos de pterossauro Hamipterus tianshanensis - REUTERS/HANDOUT


Estes ovos de pterossauros pertencem a uma espécie chamada Hamipterus tianshanensis – tinham uma grande crista e dentes pontiagudos, úteis para apanhar peixe – e são dos poucos ovos destes répteis encontrados que estão preservados na sua forma original, a três dimensões.

A descoberta indicia que os recém-nascidos não conseguiam voar assim que saíam dos ovos (os ossos das asas analisados estavam menos desenvolvidos do que os seus membros posteriores, equivalente às pernas) e precisavam de alguns cuidados e protecção da parte dos progenitores. Ainda assim, os cientistas alertam que são precisos mais exemplares e mais estudos para provar que este é o verdadeiro desenvolvimento dos répteis, já que não se pode garantir que os maiores embriões encontrados estivessem prontos a nascer.

Ainda que os cientistas estudem os pterossauros há mais de dois séculos, diz a National Geographic, os primeiros ovos só foram encontrados no início dos anos 2000. Como referido no estudo publicado na Science, os fósseis de ovos fornecem “informação única sobre a reprodução e desenvolvimento inicial dos vertebrados”. E são muito raros, sobretudo em espécies como os pterossauros.

Em 2014, tinham sido encontrados cinco ovos intactos de pterossauros com cerca de 120 milhões de anos, também na China — o que já foi um marco no estudo dos répteis, tendo em conta que antes só se conheciam quatro ovos, todos eles esmagados (encontrados na China e na Argentina). Também deixaram marcas na Lourinhã, em Portugal: em novembro do ano passado, foi anunciado que tinha sido encontrado um dos maiores trilhos do mundo de pegadas de pterossauros na praia da Peralta, que mostrava que os répteis alados eram quadrúpedes e não bípedes, como se pensava até então.

































in PÚBLICO.pt